sábado, 15 de setembro de 2012


Se Eu fosse apenas...

Se eu fosse apenas uma rosa,
com que prazer me desfolhava,
já que a vida é tão dolorosa
e não te sei dizer mais nada!


Se eu fosse apenas água ou vento,
com que prazer me desfaria,
como em teu próprio pensamento
vais desfazendo a minha vida! 


 Perdoa-me causar-te a mágoa
 desta humana, amarga demora!
 de ser menos breve do que a água,
 mais durável que o vento e a rosa. . .

 Cecília Meireles


Postado por Jéssica Faria.

Poema Infantil - Cecília Meireles

A bailarina

                                                   
Esta menina                                  
tão pequenina
quer ser bailarina.
Não conhece nem dó nem ré
mas sabe ficar na ponta do pé.
Não conhece nem mi nem fá
Mas inclina o corpo para cá e para lá.
—–
Não conhece nem lá nem si,
mas fecha os olhos e sorri.
—-
Roda, roda, roda, com os bracinhos no ar
e não fica tonta nem sai do lugar.
—-
Põe no cabelo uma estrela e um véu
e diz que caiu do céu.
—-
Esta menina
tão pequenina
quer ser bailarina.
—-
Mas depois esquece todas as danças,
e também quer dormir como as outras crianças.




Cecília Meireles


Cecília Meireles é uma das grandes escritoras da literatura brasileira. Seus poemas encantam os leitores de todas as idades. Nasceu no dia 7 de novembro de 1901, na cidade do Rio de Janeiro e seu nome completo era Cecília Benevides de Carvalho Meireles.
Sua infância foi marcada pela dor e solidão, pois perdeu a mãe com apenas três anos de idade e o pai não chegou a conhecer (morreu antes de seu nascimento). Foi criada pela avó Dona Jacinta. Por volta dos nove anos de idade, Cecília começou a escrever suas primeiras poesias.  
Formou-se professora (cursou a Escola Normal) e com apenas 18 anos de idade, no ano de 1919, publicou seu primeiro livro “Espectro” (vários poemas de caráter simbolista). Embora fosse o auge do Modernismo, a jovem poetisa foi fortemente influenciada pelo movimento literário simbolista. 
No ano de 1922, Cecília casou-se com o pintor Fernando Correia Dias. Com ele, a escritora teve três filhas.  
Sua formação como professora e interesse pela educação levou-a a fundar a primeira biblioteca infantil do Rio de Janeiro no ano de 1934. Escreveu várias obras na área de literatura infantil como, por exemplo, “O cavalinho branco”, “Colar de Carolina”, “Sonhos de menina”, “O menino azul”, entre outros. Estes poemas infantis são marcados pela musicalidade (uma das principais características de sua poesia). 
O marido suicidou-se em 1936, após vários anos de sofrimento por depressão. O novo casamento de Cecília aconteceu somente em 1940, quando conheceu o engenheiro agrônomo Heitor Vinícius da Silveira.  
No ano de 1939, Cecília publicou o livro Viagem. A beleza das poesias trouxe-lhe um grande reconhecimento dos leitores e também dos acadêmicos da área de literatura. Com este livro, ganhou o Prêmio de Poesia da Academia Brasileira de Letras. 
Cecília faleceu em sua cidade natal no dia 9 de novembro de 1964.  
Relação de suas obras: 
Espectro - 1919
Criança, meu amor - 1923
Nunca mais... - 1923
Poema dos Poemas -1923
Baladas para El-Rei - 1925
O Espírito Vitorioso - 1935
Viagem - 1939
Vaga Música - 1942
Poetas Novos de Portugal - 1944
Mar Absoluto - 1945
Rute e Alberto - 1945
Rui — Pequena História de uma Grande Vida - 1948
Retrato Natural - 1949
Amor em Leonoreta - 1952
12 Noturnos de Holanda e o Aeronauta - 1952
Romanceiro da Inconfidência -1953
Poemas Escritos na Índia - 1953
Batuque - 1953
Pequeno Oratório de Santa Clara - 1955
Pistóia, Cemitério Militar Brasileiro - 1955
Panorama Folclórico de Açores -1955
Canções - 1956
Giroflê, Giroflá - 1956
Romance de Santa Cecília - 1957
A Rosa - 1957
Obra Poética -1958
Metal Rosicler -1960
Solombra -1963
Ou Isto ou Aquilo -1964
Escolha o Seu Sonho - 1964 


(Jéssica Faria)



"Depois vai o Sem-Pernas. Vai calado, uma estranha comoção o possui. Vai como um crente para uma missa, um amante para o seio da mulher amada, um suicida para a morte. Vai pálido e coxeia. Monta um cavalo azul que tem estrelas pintadas no lombo de madeira. Os lábios estão apertados, seus ouvidos não ouvem a música da pianola. Só vê as luzes que giram com ele e prende em si a certeza de que está num carrossel, girando num cavalo como todos aqueles meninos que têm pai e mãe, e uma casa e quem os beije"                                                                                            ( Capitães da Areia, Jorge Amado).

 O desejo mais profundo dos Capitães da Areia, não eram uma mulher nem Dinheiro, era de apenas  ser uma criança como qualquer outra, necessitavam do essencial, pai, mãe, família, alguém que cuidasse, que tivesse um pouco de sentimento fraternal para preencher esse vazio dessa vida que levavam.


Jéssica Faria
“O Sem-Pernas convidou a todos para irem ver o carrossel na outra noite, quando o acabariam de armar. E saiu para encontrar Nhozinho França. Naquele momento todos os pequenos corações que pulsavam no trapiche invejaram a suprema felicidade do Sem-Pernas. Até mesmo Pirulito, que tinha quadros de santos na sua parede, até mesmo João Grande, que nessa noite iria com o Querido-de-Deus ao candomblé de Procópio, no Matutu, até mesmo o Professor, que lia livros, e quem sabe se também Pedro Bala, que nunca tivera inveja de nenhum porque era o chefe de todos?”
                                                                (Jorge Amado, Capitães da Areia)

Apesar de Os Capitães Da Areia viverem como homens, praticar crimes e estupros, no fundo ainda eram crianças, crianças com infância roubada, sem nenhum direito, sem nada, sem alternativa para serem bons.

Jéssica Faria 


"Avô, mesmo que a gente morra, é melhor morrer de repetição na  mão, brigando com o coronel, que morrer em cima da terra, debaixo de relho, sem reagir. Mesmo que seja pra morrer nós deve dividir essas terras, tomar elas para gente. Mesmo que seja um dia só que a gente tenha elas, paga a pena de morrer".
(AMADO,Jorge - Os Subterrâneos da Liberdade - Agonia da Noite,)
Quando nos privam de algum direito ou nos tomam algo que é nosso  ferem nossa liberdade e a liberdade torna o ser humano mais corajoso como se sua dignidade estivesse acima de tudo, até mesmo da própria vida. E isto está expressamente dito neste trecho de Os Subterrâneos da liberdade de Jorge Amado.

Jéssica Faria

                                                                                                                                                                    

                                                10/8/1912, Itabuna (BA) 

                                                 6/8/2001, Salvador (BA)

Jorge Amado de Faria nasceu na fazenda Auricídia, em Ferradas, município de Itabuna. Filho do "coronel" João Amado de Faria e de Eulália Leal Amado, foi com apenas um ano para Ilhéus, onde passou a infância. Mudou-se para Salvador, onde passou a adolescência e entrou em contato com muitos dos tipos populares que marcaria sua obra.
Aos 14 anos, começou a participar da vida literária de Salvador, sendo um dos fundadores da Academia dos Rebeldes, grupo de jovens que (juntamente com os do Arco & Flecha e do Samba) desempenhou importante papel na renovação das letras baianas. Entre 1927 e 1929, foi repórter no "Diário da Bahia", época em que também escreveu na revista literária "A Luva".
Estreou na literatura em 1930, com a publicação (por uma editora carioca) da novela "Lenita", escrita em colaboração com Dias da Costa e Édison Carneiro. Seus primeiros romances foram "O País do Carnaval" (1931), "Cacau" (1933) e "Suor" (1934).
Jorge Amado bacharelou-se em ciências jurídicas e sociais na Faculdade de Direito no Rio de Janeiro (1935), mas nunca exerceu a profissão de advogado. Em 1939, foi redator-chefe da revista "Dom Casmurro". De 1935 a 1944, escreveu os romances "Jubiabá", "Mar Morto", "Capitães de Areia", "Terras do Sem-Fim" e "São Jorge dos Ilhéus".
Em parte devido ao exílio no regime getulista, Jorge Amado viajou pelo mundo e viveu na Argentina e no Uruguai (1941-2) e, depois, em Paris (1948-50) e em Praga (1951-2).
Voltando para o Brasil durante a Segunda Guerra Mundial, redigiu a seção "Hora da Guerra", no jornal "O Imparcial" (1943-4). Mudando-se para São Paulo, dirigiu o diário "Hoje" (1945). Anos depois, no Rio, participou da direção do semanário "Para Todos" (1956-8).
Em 1945, foi eleito deputado federal pelo Partido Comunista Brasileiro, por São Paulo, tendo participado da Assembléia Constituinte de 1946 e da primeira Câmara Federal posterior ao Estado Novo. Nessa condição, foi responsável por várias leis que beneficiaram a cultura. De 1946 a 1958, escreveu "Seara Vermelha", "Os Subterrâneos da Liberdade" e "Gabriela, Cravo e Canela".
Em abril de 1961, foi eleito para a cadeira número 23 da Academia Brasileira de Letras (sucedendo Otávio Mangabeira). Na década de 1960, lançou as obras "Os Velhos Marinheiros" (que compreende duas novelas, das quais a mais famosa é "A morte e a morte de Quincas Berro d'Água"), "Os Pastores da Noite", "Dona Flor e Seus Dois Maridos" e "Tenda dos milagres". Nos anos 1970, vieram "Teresa Batista Cansada de Guerra", "Tieta do Agreste" e "Farda, Fardão, Camisola de Dormir".
Suas obras foram traduzidas para 48 idiomas. Muitas se viram adaptados para o cinema, o teatro, o rádio, a televisão e até as histórias em quadrinhos, não só no Brasil, mas também em Portugal, França, Argentina, Suécia,Alemanha, Polônia, Tchecoslováquia (atual República Tcheca), Itália e EUA.                                                                                     Seus últimos livros foram "Tocaia Grande" (1984), "O Sumiço da Santa" (1988) e "A Descoberta da América pelos Turcos" (1994).
Além de romances, escreveu contos, poesias, biografias, peças de teatro, histórias infantis e até um guia de viagem. Sua esposa, Zélia Gattai, é autora de "Anarquistas, Graças a Deus" (1979), "Um Chapéu Para Viagem" (1982), "Senhora Dona do Baile" (1984), "Jardim de Inverno" (1988), "Pipistrelo das Mil Cores" (1989) e "O Segredo da Rua 18" (1991). O casal teve dois filhos: João Jorge, sociólogo e autor de peças infantis; e Paloma, psicóloga.
Jorge Amado morreu perto de completar 89 anos, em Salvador. A seu pedido, foi cremado, e as cinzas, colocadas ao pé de uma mangueira em sua casa.



Jéssica Faria